segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

2.0.1.0

Tchanannnn...

A par de tudo o que se almeja e reflete no novo e velho ano respectivamente, nunca senti o "dessa vez é pra valer" tão pra valer realmente!

Além de não haver mais tempo para enrolar, pois o tempo urge e a ruga surge, eu estou mesmo mudando. As coisas mudam até quando nada faço. Neste caso, mudam para pior, pois o tempo modifica a realidade e para se adequar a ela, mesmo a base da inércia é preciso (e inevitável) enxergar a partir de outros olhos (sem promiscuidades).

Os olhos da alma, do coração, dos sentimentos.

Deixar o passado, presente e futuro no seu devido tempo e usar as energias com mais respeito e responsabilidade pois a energia vital é sagrada demais para ser desperdiçada...

Pois é, demorou mas aprendi...tempo, tempo, tempo, mano velho.

Transcrevo aqui dos dizeres de Drummond, meu poeta preferido. Pois me compreendo em suas palavras e muitas vezes encontro em seus poemas, meu clamor íntimo traduzido o qual as palavras não são encontradas por mim.

Receita de ano novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade