sábado, 2 de novembro de 2019

17 anos

Hoje eu abracei todos os meus ausentes, que vivem tão intensamente em minha memória.

Faz 17 anos que minha mãe faleceu. Tantas coisas mudaram...
Fazia um tempo que não ia na cerimônia de "Shokô" (oferecimento de incenso em oração budista aos falecidos).
Primeiramente, eu gostei muito das orientações do Sr. Maehara que, em tom leve orientou a todos sobre o sentido e o sentimento da construção do lindo Palácio Memorial da Paz  Eterna, bem como o oferecimento das nossas orações. Uma curiosidade é que, após carinhosamente agradecer a presença de todos, e em especial, pessoas que não eram budistas pela consideração de partilhar o momento, ele disse que cada um poderia fazer e oferecer seu sentimento ao seu modo e conforme suas crenças. Achei extremamente valoroso. Acredito que a convicção aumenta quando não há imposição.

Secundariamente, um filme se passou em minha cabeça ao ver a emoção do meu pai ao ler o nome de minha mãe no nicho da sala cinerária. Quanta saudade! Quanto amor!

Lembrei que alguns anos após a sua morte, eu participei de uma atividade budista e calhou de poder visitar o cinerário sozinha. Eu sentei no chão e fiquei na altura do nicho, em silêncio. Chorei de saudade, mas percebi o quanto havia vivido bem... e agradeci.

Ainda este ano fiz o mesmo com meus amigos Rick e Wangler. Um pouco antes de prestigiar a concessão de Gohonzon do nosso amigo Job, fomos ao palácio memorial.Só havia nós três.
Acompanharam-me até o nicho de minha mãe e depois cada um visitou o nicho de seus familiares. Após, sentamos na sala de oração, mas não oramos. Ficamos em silêncio. Um silêncio cúmplice de ... fique só, mas eu estou aqui"... e o silêncio tão acolhedor me deu vontade de chorar e chorei ahahaha. Não sei quanto tempo durou, mas este momento está gravado profundamente em meu coração.

A morte, por óbvio, é forte válvula do passado. Por este motivo, remeto-me a profundas reflexões:
Tudo o que eu vivi foi o que quis até agora? Perdi tempo? Me enganei ou me deixei enganar? Segui meu instinto? Me envolvi com outros instintos (hummmmm)? Confundi sentimentos? Errei ou acertei mais? E o principal: Estou fazendo jus ao que  pretendo no futuro?  Estou fazendo jus ao amor dos entes que não mais estão aqui? Estou vivendo?  Piegas porém, relevante.

E aí eu percebo que algo milagroso acontece agora e a todo o momento. Entorpecida entre a minha realidade e anseios e sem que eu perceba, algo está acontecendo. E eu só vou me dar conta quando virar passado sobre o quanto foi especial, o quanto foi essencial. Mas o passado é morto.

Desta forma, consegui aquietar minha mente e sentir todas as minhas lembranças e um insight de que tudo o que acontece, sem maniqueísmo... é mágico, lindo e morre.

Nesse espacinho de tempo, o aproveitamento máximo vai ser o gatilho da nossa vontade de viver tudo o que pudermos, porque a faísca que é a nossa vida pode se apagar até antes do final deste meu escrito.

O que nos resta é saber se eu cuidei bem de mim e de quem eu amo.Se eu ri e chorei o suficiente, se bebi e vi o suficiente, se senti o suficiente para compreender a importância de cada segundo da vida que neste instante já morreu.

E antes que pense: E você perdendo tempo aqui escrevendo???
Creio que dá para entender que estou vivendo, escrevendo, refletindo... então é este o meu momento mágico de palavras cujas não escritas agora, jamais seriam as mesmas, seriam natimortas.

Vem cá, me dá um abraço e vamos trocar energia para aquecer nossas almas :)